quarta-feira, 25 de abril de 2012

Promoção de Aniversário: Resultado da Promo Seguidores

Caríssimas Pessoas,

Conforme anunciado, estou disponibilizando o resultado do sorteio da primeira promoção do aniversário do Castelo das Águias. Muito obrigada por participarem e divulgarem!

Entre os seguidores do Twitter, o sorteio foi via hashtag utilizando o Twicket. A vencedora foi a pessoa cujo Twitter é @483THForeverNow, ou seja: a Cândida Desirée.


Já entre os seguidores do blog, atribuí um número a cada um deles e fiz o sorteio pelo Random.org, que forneceu o número 23. Este correspondia na lista à Jéssica Marise.


Parabéns a vocês, Cândida e Jéssica! Agora é só entrar em contato comigo através do e-mail anamerege@gmail.com e fornecer o endereço de envio, com CEP, até a meia-noite do dia 29 de abril. Espero que curtam bastante "O Castelo das Águias".

E para quem não ganhou, não desanimem! Até o dia 2 de maio, ainda podem concorrer a um kit livro + marcador + camiseta respondendo às três perguntas da Caça ao Tesouro. Isso sem falar nos escritores que se inspirarem no universo do Castelo para contar suas histórias. Confiram na página das Promoções aqui do blog!

E continuem comigo. Ainda temos muitas sagas para narrar ao redor do fogo!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Em Nome de Thonarr (Parte 7)



Padraig não tinha como saber, mas, pouco tempo depois de ter voltado para a cidade, seu nome se tornara conhecido por todos no Castelo das Águias. Os aprendizes com quem conversara tinham-se encarregado de falar sobre ele aos quatro cantos: com os mestres, como Shanion – que ergueu o lábio, num gesto de desdém característico, ao ouvir sobre o menino que acreditava num Thonarr de carne e osso - , com os companheiros de Círculo e até com os artesãos e os empregados do Castelo. Entre outras observações, discutiam o significado das palavras de Camdell, que os intrigavam pelo simples fato de terem sido ditas: até onde se lembravam, o Mentor jamais lhes dera qualquer conselho.

As perguntas se multiplicaram em ecos pelos corredores até chegar aos ouvidos de Kieran. Isso aconteceu em torno da hora do crepúsculo, propiciando uma entrada abrupta, quase violenta na sala de refeições.

- O garoto esteve aqui! – exclamou ele, dirigindo-se sem rodeios a Camdell. – Por que ninguém me chamou?

- Você já falou com ele – respondeu o Mentor, sem se abalar. – Despertou a curiosidade que, agora, começa a trazer mais indagações. Ele tem de achar as respostas antes de decidir o que realmente quer.

- Eu poderia ajudá-lo – argumentou Kieran.

- Mais tarde, sim. Agora só iria pressioná-lo – disse Thalia, da outra ponta da mesa.

Kieran franziu o cenho e se voltou para a elfa. Ela estava perto de Shanion, como vinha acontecendo nos últimos tempos, mas, como sempre, não tardara a acorrer em defesa de Camdell. Como se fosse necessário.

- Eu sei que você o quer na Escola. Eu também quero – tornou brandamente o Mentor. – Mas o menino tem de sentir que está fazendo a coisa certa. Sentir. Não raciocinar. Você compreende?

- Claro. – Kieran respirou fundo, puxou a cadeira próxima à de Lara. – Não é o meu jeito de lidar com as coisas, mas, de qualquer modo...

- Até parece – murmurou Lara, de si para si, com um risinho. Seus olhos claros se encontraram com os de Kieran, escuros e estreitos, guardiões de tantos segredos. Ele trabalhava na esfera do Pensamento, sim. Tinha a vontade mais ferrenha, mais direcionada que ela já vira, incluindo a de Hillias. Mas Lara sabia muito bem o que os sentimentos podiam levá-lo a fazer.

Mais cedo que de hábito, ele se recolheu a seus aposentos, numa das torres mais antigas do Castelo. Seu quarto ficava no segundo andar, com a janela voltada para o pátio interno e outras construções; não era a melhor vista que poderia ter, mas permitia que observasse o movimento na Ala Azul, onde tinham lugar as aulas de Magia da Forma e Pensamento. Sua vigilância prevenira e reparara vários desastres provocados por aprendizes descuidados ou, pelo contrário, mais aplicados do que seria bom para eles mesmos. Esta noite, porém, a Ala parecia tranquila, e, depois de um breve instante de observação, ele deixou a janela e se voltou para a estante na parede oposta.

Ao contrário do que se poderia pensar, Kieran não mantinha um só livro de Magia em seu quarto, à exceção dos grimórios que continham suas próprias anotações. Todos os demais tratavam de seus outros interesses: livros sobre a história das Terras Férteis, relatos acerca de guerra e estratégia militar e muitas obras literárias, principalmente de poesia élfica. Tinha também alguns volumes de sagas e o exemplar do Etta em que aprendera as primeiras letras, as páginas amassadas e sujas por seus dedos de garoto do campo. Ele também, naquele tempo, encontrara conforto nas histórias sobre os Heróis.

Kieran pegou o livro e se pôs a folheá-lo, ao mesmo tempo em que caminhava de um lado a outro do quarto. O volume era humilde, com uma encadernação barata e várias páginas soltando, mas algumas pareciam saltar aos olhos por outro motivo: aquelas que o menino, e mais tarde o jovem Kieran ap Fergus visitara com frequência, embora seu aprendizado o houvesse levado a descrer dos Heróis. Ainda assim, as sagas continham mensagens, ensinamentos e símbolos poderosos que nenhum mago digno desse nome ousaria negar.

Seus dedos correram sobre as páginas, descuidados como outrora. O livro se abrira numa história sobre três Heróis, Thonarr, Woden e Loki, aquele a quem os homens se referiam como o Esquerdo. A maioria dos meninos com quem crescera preferia Thonarr, embora muitos se declarassem devotos de Thýrr, patrono de Scyllix e dos guerreiros. Kieran, porém, sempre gostara mais de figura de Woden, com seu cajado e o olho encoberto pelo chapéu de viagem, e o interesse cresceu à medida em que avançava no aprendizado da Magia. Como ele, Woden era aquele que entoava encantamentos e que adquirira um Dom por meio de sacrifícios. Era inteligente, misterioso e às vezes sombrio. E, além disso, tinha um elo mágico com os corvos. Isso o fazia enxergar longe, mesmo com um olho só.

Kieran também via muitas coisas através das águias.

O livro estava aberto na figura de Woden quando ele ouviu os gritos. Não eram de pânico ou de raiva – as guerras o tinham ensinado a distinguir – mas um aviso, um chamado que vinha dos arredores da Torre dos Ventos. Ele correu até a janela, surpreendendo-se com a rajada de chuva que o atingiu antes mesmo de tê-las visto.

Eram duas, como os corvos de Woden, e majestosas, com sua grande envergadura e as penas douradas. Voavam sem esforço, apesar do vento cada vez mais forte, mas isso iria mudar rapidamente à medida em que suas asas se encharcassem. Elas avistaram o mago junto à janela e tornaram a gritar, fazendo com que seus olhos as seguissem quando, num vigoroso bater de asas, deixaram as imediações da Torre dos Ventos. Iam em direção a seu lar, a floresta; mas, em vez de voar em linha reta, fizeram uma curva pronunciada, passando diante dos olhos de Kieran e contornando boa parte do castelo. Ele se debruçou sobre o parapeito, tentando não perdê-las de vista, mas foi um longo momento antes que voltassem ao rumo esperado. Ao se afastarem, gritaram pela terceira vez, o som se perdendo em meio ao ruído agora furioso da chuva.

Siga-nos, mestre. Venha ver.

Sem hesitar, Kieran subiu correndo até o andar superior e se dirigiu à janela. Ficava do lado oposto à do seu quarto, descortinando boa parte de Vrindavahn - e foi exatamente no centro da cidade que ele viu o que atraíra as águias.

Por um instante, sua única reação foi ficar parado, tentando compreender o que tinha diante dos olhos. Para um homem comum, não havia nada além de uma tempestade com raios, mas ele via o brilho da energia mágica que impregnava toda a região ao redor do templo de Bragi. Com certa dificuldade, conseguia ver pessoas se movendo por ali, mas o brilho não parecia vir de nenhuma delas e sim do próprio ar, da chuva que envolvia a cidade como um manto líquido. O mais estranho, porém, era a forma como os resquícios da energia permaneciam no templo, um lugar que normalmente não teria atraído aquele tipo de vibração. Porque era uma vibração, uma força que não provinha de homem ou elfo e sim da própria natureza, e como tal podia vir a causar uma catástrofe.

A não ser que alguém interferisse para evitar.

Os tratados de Magia diziam que a chuva devia cair onde era necessária, tal como o fogo precisava arder onde houvesse uma centelha. Kieran pensou nisso por um momento antes de perceber a quantidade de pessoas correndo em direção ao templo, as vibrações de angústia e desespero que se desprendiam de cada uma delas. Então, teve certeza do que devia fazer.

Passando às pressas por seu quarto, ele pegou um manto e um chapéu que o protegessem da chuva e deixou a torre, enveredando por um corredor da Ala Azul até a sala em que – se não quisessem problemas com ele – seus aprendizes deviam estar praticando para um teste de habilidade no dia seguinte. Pensara encontrar vários deles ali, mas, para sua surpresa, viu apenas Gwyll, que suava com o esforço de fazer flutuar alguns cadernos com a força do pensamento.

- Mestre! – exclamou o meio-elfo, arregalando os olhos. Como era de se esperar, a concentração foi por água abaixo, os cadernos caindo no chão com um ruído abafado. Kieran não perdeu tempo perguntando pelos demais. Apenas explicou o que ia fazer, acrescentando que sua ajuda seria bem-vinda, embora não necessária. Gwyll hesitou por um instante, depois assentiu, cheio de um brio que revelava o mago habilidoso que um dia viria a ser. Infelizmente, faltavam alguns anos – e foi acompanhado de um rapazinho magro, orelhudo e de cabelos eriçados que o Mestre das Águias rumou a todo galope para o templo de Bragi.

Parte 8

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Promoção de Aniversário de O Castelo das Águias



Pessoas Queridas,

Para quem não lembra, O Castelo das Águias foi lançado no dia 26 de abril de 2011, numa das filiais da Livraria da Travessa aqui no Centro do Rio. O tempo passou rápido e aqui estamos nós, um pouco mais velhos e (quem sabe) um pouco mais sábios, à espera de que chegue a hora de soprar a primeira velinha. Parabéns, Anna e Kieran! E parabéns a vocês, amigos e leitores, sem os quais nada disso seria possível!

Para comemorar - e também para ampliar o nosso círculo - estou lançando três promoções simultâneas. Uma é para seguidores do twitter e do blog, outra para quem gosta de brincar de detetive e a terceira é para quem curtiu o universo do Castelo e gosta de escrever. Os prêmios são variados e bem legais. Dê uma olhada na nossa página de promoções e escolha a sua.

Conto com sua participação!

...

Kieran e Anna no traço de Marina Hiei

terça-feira, 17 de abril de 2012

Em Nome de Thonarr (Parte 6)



O resto da visita transcorreu sem surpresas. A reação de Padraig às palavras de Gwyll erguera um muro entre o garoto e os três rapazes; eles continuaram a tratá-lo com gentileza, mas sem mais tentativas de camaradagem. Lear foi praticamente o único a falar, mostrando o exterior de algumas das Alas e, no fim, a biblioteca e a sala de estudos do prédio principal. Um grupo de aprendizes se achava ali, meninos provavelmente mais novos do que Padraig, preenchendo uma grande folha de papel com símbolos que copiavam de enormes livros abertos.

Símbolos, símbolos, símbolos. Não, a Magia não era tão real quanto Thonarr.

- Bom, então... A não ser que queira ver os nossos quartos e a cozinha, acho que é tudo – disse Lear, sem jeito. – Há muito mais, é claro, mas não podemos levá-lo às outras alas sem permissão dos mestres.

- Já vi bastante coisa, obrigado – disse Padraig. Os aprendizes se entreolharam, preparando-se para dizer adeus, e foi quando o Preste Drusius surgiu de uma porta no final do corredor.

- Veja só, nos encontramos! – comentou ele, com ar satisfeito. – Gostou do Castelo, Padraig?

- Eu...

- Ele não viu muita coisa – disse uma voz suave às costas do Preste. Este se afastou para o lado, permitindo que o novo personagem aparecesse diante do garoto.

Anos mais tarde, Padraig teria dificuldade para explicar o que sentiu ao ver o Mestre Camdell pela primeira vez. Sua lembrança mais forte era a de ter dito a si mesmo que o Mentor era humano – ou melhor, que havia algo de humano em seus olhos, e que isso se sobrepunha a todas as evidências de ele pertencer a outra raça. Ele avançou com um sorriso nos lábios e a mão erguida, um gesto que logo se modificou para permitir um cumprimento à maneira dos homens.

- Sophia me falou a seu respeito – disse. – É muito bom vê-lo aqui. Sua visita o ajudou a refletir sobre o que ouviu de Kieran?

Pego de surpresa, Padraig hesitou. Sabia que fora rude com os aprendizes e não queria sê-lo também diante de um mestre, mas Camdell era uma dessas pessoas para as quais não se pode mentir. Seus olhos cor de âmbar, ao mesmo tempo sérios e sorridentes, pareciam capazes de penetrá-lo, ler as dúvidas e os desejos mais secretos de seu coração. Ele engoliu em seco, pensando em como explicar, e foi então que Gwyll se antecipou à sua resposta.

- Mestre, ele é devoto de Thonarr. Acredita que os Heróis existem de verdade. Eu expliquei o que aprendemos com Mestre Shanion, mas Padraig não concorda.

- Ah, Shanion – disse o Mentor, pensativo. – Nosso atual Mestre de Sagas não é a pessoa mais indicada para dar essa explicação. Não a um rapaz como Padraig.

- Se me permite, Mestre Camdell... Todas as explicações que deseje, o menino pode obtê-las comigo – disse o Preste Drusius. O tom era amável, mas Padraig sentiu uma nota de tensão, que o Mentor poderia ter ampliado com uma só palavra. Esse, porém, não seria Camdell.

- Meu caro Preste, parece-me que o rapaz tem perguntas, mas nenhum de nós pode respondê-las neste momento. Se ele crê em Thonarr – olhou nos olhos de Padraig, provocando-lhe um calafrio – e se isso lhe confere poder, uma transformação virá, mais cedo ou mais tarde. Só ela pode trazer a compreensão de muitas coisas que hoje parecem incertas. Então talvez não tenha mais dúvidas quanto ao caminho.

Fez uma pausa, durante a qual o mundo pareceu parar – ou ao menos o de Padraig.
Então, inspirou profundamente, seus olhos adquirindo um brilho de chama ao aconselhar:

- Não ouça nenhum de nós antes de ouvir a voz de Thonarr.

E isso foi tudo.

Parte 7

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Em Nome de Thonarr (Parte 5)


Comparado às fortalezas do norte, e mesmo a algumas edificações dos elfos nas Onze Cidades, o Castelo das Águias não era majestoso. Bonito, sim, e intrigante, especialmente pelas torres de telheiros coloridos. Um a um, eles se revelaram à medida em que o carro avançava pela estrada, conduzido por um empregado do templo e tendo Padraig e o Preste Drusius como passageiros.

Já pelo caminho, o Preste foi falando sobre os antigos senhores de Vrindavahn, que tinham governado a cidade durante séculos até o pacto de extinção da nobreza. Como parte do acordo, a municipalidade lhes pagava impostos, que, junto com a fortuna da família, tinham financiado a construção das novas alas e mantinham a Escola de Artes Mágicas. Tudo de acordo com os desejos do último descendente, Mestre Theoddor, que o Preste, ainda menino, conhecera como um homem gentil, bem-falante e sempre envolvido com seus estudos da Natureza. Que eles fossem se voltar para a Magia, ninguém havia imaginado até a chegada de seu amigo, Camdell de Riverast.

- Então, em apenas algumas luas, as coisas mudaram – detalhou o Preste, com um gesto largo. – Os artesãos e artistas da cidade foram convocados, anunciaram a fundação da Escola, chegaram os primeiros mestres com seus aprendizes. Lembro disso como se fosse hoje. No início eram todos elfos e meio-elfos, mas pouco depois começaram a aparecer postulantes da raça humana... então contrataram Urien, que você conhece, como professor de música, e também o Mestre Naheen, que finalmente pôde ter seu observatório dos astros. E o castelo cresceu, tão rápido que mal se podia acreditar.

- Por que as torres têm cores diferentes? – perguntou Padraig.

- Porque as cores têm significados para os magos. Para nós também: os Prestes usam o cinzento por reconhecer que somos feitos de carne e espírito, luz e trevas, e também por outra razão. Sabe qual é?

- Não.

- É que assim fica mais fácil disfarçar as manchas na túnica! – replicou o Preste, com uma risada cheia.

Padraig e o cocheiro também riram, balançando a cabeça. O carro acabara de cruzar as muralhas e seguia por um caminho pavimentado, bem mais regular do que a estrada lá fora. No fim, chegou a um pátio interno, detendo-se diante de um prédio com apenas duas torres de telheiros pintados de branco. Pessoas circulavam por ali, e ao sair do carro Padraig percebeu traços élficos entre a maioria de rostos humanos. Isso o intimidou um pouco: embora nascido e criado em Vrindavahn, uma das cidades de maior mestiçagem das Terras Férteis, não convivia de perto com os descendentes da outra raça. Esperava que fossem todos tão cordiais quanto Finn e Sophia.

- Paz, Preste Drusius! – saudou um homem baixo e jovem, vestido com roupas sóbrias que deviam ser de um funcionário ou serviçal. – Mestre Camdell aguarda o senhor, vou levá-lo até ele. Quer que ponhamos os cavalos no estábulo?

- Seria bom que bebessem água, mas não se preocupe. Lornan vai cuidar disso – respondeu o Preste, referindo-se ao cocheiro. – Agora, o menino gostaria de dar uma volta por aqui. Ele foi convidado pelos mestres a conhecer o Castelo... Seria possível?

- Claro! Futuro aprendiz? – perguntou o homem, com simpatia. Padraig olhou para o Preste antes de negar, e, por isso, receber um sorriso de aprovação do sacerdote.

- Ele é da cidade, está curioso pelo Castelo e sua história – foi a explicação. O homem assentiu e refletiu alguns instantes, após os quais ergueu a voz, chamando um grupo de rapazes que conversava ali perto.

- Que foi, Will? – perguntou o que chegou na frente. Com uns dezesseis ou dezessete anos, era alto, de cabelo castanho e olhos verdes. Os outros dois deviam ser um pouco mais novos, um deles com certeza meio-elfo, o outro um possível descendente de olhos grandes e oblíquos. Padraig achou que o mais velho tinha jeito de fanfarrão, mas, tão logo o funcionário explicou do que se tratava, foi ele quem se prontificou a levar o menino para uma volta pelo Castelo.

- Vamos começar pela Ala Violeta, depois a Branca. Nessas você pode entrar e olhar à vontade – disse, pondo a mão no ombro de Padraig e se afastando com ele pelo pátio. – A Azul, para quem quer conhecer a história do Castelo das Águias, é a mais interessante, mas você terá de vê-la só por fora, pois é lá que ficam as salas de prática mágica. A propósito, sou Lear de Madrath. Estes são meus amigos Gwyll e Erdon. Como é seu nome?

- Padraig. Vocês são aprendizes de Magia? – perguntou o menino, sem disfarçar sua ansiedade.

- Pode apostar – disse Gwyll, o meio-elfo de cabelos louros e eriçados. – Do Segundo Círculo, já faz algum tempo. Quando vimos você, achamos que também estivesse aqui para isso.

Padraig apertou os lábios e não respondeu. Estavam caminhando em direção à parte oeste do Castelo, onde vários galpões de madeira se erguiam em torno de um anfiteatro e de uma torre com telhas cor de violeta. Dali partiam sons que lembravam os de um mercado, embora em menor escala: o ir-e-vir de serras na madeira, o tinido sincopado de um martelo sobre uma bigorna e exclamações cruzando o ar de lado a lado.

- A Ala Azul do Castelo é a da Magia. Esta é a da Arte – explicou Lear, enquanto o grupo passava entre os galpões. Alguns pareciam antigos e sólidos, mas outros eram claramente improvisados, como os de uma feira de primavera. Além dos artífices, Padraig viu dois homens carregando marionetes de fio e um garoto praticando malabarismo com bolas, sob o olhar de um velho espigado que corrigia cada erro.

- Vamos passar ao largo. Aquele é o Razek, o moleque mais briguento de toda a Escola – segredou Gwyll. – É só a gente olhar pra ele que já fica zangado.

- Se ele é da Escola, por que está fazendo malabarismo?

- Todos nós aprendemos. É uma forma de nos concentrar, o que torna mais fácil trabalhar com a vontade e a energia mágica – disse Lear.

Padraig franziu a testa, sem entender. Nesse momento, um homem usando um avental de couro saiu de uma das oficinas, seus lábios esboçando uma exclamação de surpresa ao ver o garoto.

- Você por aqui! Resolveu aprender Magia, foi?

- Não, estou de visita. Vim com Preste Drusius – respondeu Padraig. O homem assentiu em compreensão. Era um sujeito alto e musculoso, natural do País do Norte, que costumava reparar os danos causados pelo tempo nos vitrais do Templo de Bragi. E, ao que parecia, também era um dos artesãos da Ala Violeta.

- Já que está com o Preste, dê-lhe um recado da minha parte – pediu o homem. – Avise que não tenho como mexer nos vitrais do lado norte antes que arrumem os pilares; que aquela rachadura é um perigo e o teto pode ir abaixo na primeira chuva. Não vai esquecer?

- Não, Mestre Adso. Direi a ele – prometeu o menino.

- Você é mesmo devoto, hem? – comentou Erdon, quando prosseguiram a caminhada. – Pela conversa, parece que está sempre no templo.

- Sou devoto de Thonarr. – Orgulhoso, Padraig ergueu o pendente do martelo. – Ele me guia em tudo que faço. E me protege.

- Se é o que acredita – murmurou Gwyll, em voz não tão baixa.

- Acredito, sim – confirmou Padraig, franzindo o cenho. – Por que não?

- Por quê? Bom, não me leve a mal – replicou o meio-elfo. – Mas acreditar que um personagem de saga existe de verdade e protege você...

- Personagem? Ele é um Herói – protestou o garoto.

- Foi o que eu disse. Um Herói, um personagem. Não uma pessoa real.

- De certa forma ele é, sim, Gwll – ponderou Lear. – Os devotos transferem força para ele. É um símbolo poderoso.

- Símbolo? Thonarr não é um símbolo! – Padraig se deteve, indignado. – Ele é o Senhor do Raio!

- Nas sagas. E na mente dos devotos – insistiu Gwyll. – Não se pode acreditar que existe de verdade um sujeito de barba ruiva, que anda por aí com um martelo de pedra e mata gigantes. Ele é uma representação, entende? Foi o que aprendemos com nosso Mestre de Sagas.

- Então ele não sabe o que diz – replicou Padraig. Seu rosto estava quente e vermelho de revolta. Ao fim e ao cabo sua mãe estava certa: os magos não acreditavam em Deus e nos Heróis. Tentariam afastá-lo deles, com aquela história dos símbolos, caso frequentasse a Escola.

Se bem que Mestre Kieran, no dia em que se conheceram, houvesse falado sobre um outro tipo de Magia... Mas como ter certeza de que isso não era apenas um ardil?

Parte 6