segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As Casas Nobres de Athelgard e as Onze Cidades



A história das Terras Férteis é a história da convivência entre várias raças. Desde os primeiros Homens que habitaram a região, sobrevivendo como caçadores e coletores, até os Vanir e posteriormente os Elfos Brilhantes, houve conflitos e luta pelo poder.

Com ciência e tecnologia mais avançadas, os Elfos rapidamente assumiram uma posição dominante, sujeitando os descendentes dos Homens e dos Vanir - agora indistinguíveis uns dos outros graças a gerações de miscigenação - a uma condição inferior, principalmente nas chamadas Onze Cidades. Estas são os maiores centros urbanos das Terras Férteis, e cada qual foi fundada por uma família élfica que se atribuiu o status de nobreza.

Por tradição, cada família tem como símbolo uma pedra preciosa, que é usada em seus escudos de armas e sob a forma de joias. Pode-se reconhecer um membro da nobreza pela pedra do brinco que usa na parte superior da orelha direita desde o nascimento, o que acaba por deixá-la permanentemente dobrada para baixo. Já os bastardos reconhecidos pelas Casas Nobres têm direito a um brinco da mesma pedra no lóbulo da orelha. Brincos usados por pessoas não pertencentes à nobreza não podem ostentar nenhuma das onze pedras, embora estas possam ser utilizadas em colares, braceletes e outras joias.

Antes da criação da Liga das Terras Férteis - que extinguiu os direitos da nobreza, tanto élfica quanto humana, e unificou a moeda e boa parte da legislação do Sul de Athelgard - cada uma das Onze Cidades se desenvolveu de forma independente, de acordo com a geografia, o clima ou mesmo os interesses da família dominante. Para citar um exemplo: Bergenan, uma cidade de planície, desde o início abrigou muitas fazendas de grãos e de criação de animais, e foi lá que surgiu a primeira Escola de Ciências da Terra. Já Scyllix, árida e de topografia acidentada, sempre sofreu com os ataques de inimigos do Oeste, o que levou os cidadãos a se militarizarem cada vez mais.

Como parte do acordo de criação da Liga, e embora as cidades precisassem de atividades variadas para continuar a existir, cada uma passou a ser a principal responsável por um aspecto da administração, da economia e do desenvolvimento cultural. Isso ocorreu mais ou menos de acordo com o que parecia ser a "vocação" da cidade, e assim continuou desde então, apesar da insatisfação de boa parte da população, à qual determinadas atividades acabam por ser impostas à revelia.

Estas são as Casas Nobres, suas respectivas cidades e atribuições principais:


Casa Safira – Scyllix – Defesa das Terras Férteis
Casa Topázio – Bergenan – Agricultura e Pecuária
Casa Lázuli – Kalket - Comércio e Comunicações
Casa Esmeralda – Ardost - Educação e História
Casa Diamante – Madrath – Artes
Casa Ônix – Kawles – Administração
Casa Coral – Thaelke – Diplomacia
Casa Turquesa – Erchedel – Leis
Casa Ametista – Donnes – Ciências Aplicadas
Casa Âmbar – Herrien – Ciências Puras
Casa Rubi – Riverast – Cura, Magia e Religião

Há descendentes de Casas Nobres vivendo em diferentes cidades das Terras Férteis e (raramente) em outras regiões de Athelgard, mas cada uma das Onze maiores continua a abrigar o o solar de cada família fundadora. Ali vive o chefe da família com parentes de vários graus, agregados e empregados quase sempre humanos ou mestiços. Alguns ramos familiares menores se estabeleceram em cidades diferentes da sua e cresceram a ponto de rivalizar em riqueza, poder e influência com os fundadores, como acontece com um ramo da Casa Âmbar de Herrien que, estabelecido em Scyllix, acabou por se tornar inimigo político da da Casa Safira.

De um modo geral, os membros das antigas Casas Nobres são respeitados e ocupam posição de destaque na sociedade, contribuindo para que continuem a se considerar acima das demais pessoas. Eles seguem tradições próprias e se comportam como se ainda fossem membros da nobreza, com todos os direitos que cabiam a seus antepassados.

E, justiça seja feita, também não costumam fugir de seus deveres, embora geralmente sejam mais fiéis às suas famílias e à sua raça do que à população ou à Liga das Terras Férteis.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Excalibur: resultados da seleção para a coletânea



Ladies and Gentlemen,

Muitos de vocês já devem saber, mas não posso deixar de noticiar aqui no blog o resultado da seleção para a coletânea Excalibur, da qual sou co-organizadora juntamente com Erick Santos. Os autores, inclusive os convidados, e os títulos de seus contos vocês conferem no blog da Editora Draco.

Quero agradecer e parabenizar a todos que enviaram seus trabalhos. Já estou entrando em contato com os autores e iniciando o trabalho de copidesque. Àqueles que tiverem dúvidas, peço que me escrevam usando o endereço anamerege@gmail.com.

E para aqueles que aguardam o segundo volume da série do Castelo, uma boa notícia. Apesar da parada obrigatória para cuidar da coletânea, minha meta, relativa à reescrita do livro, foi batida por ampla margem, com o que a previsão de publicação está mantida para meados do ano que vem.

Enquanto isso, muito trabalho a ser feito. Muito suor, muita adrenalina, muita inspiração. E a certeza de que colheremos belos frutos.

Até breve!

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Post ilustrado com imagem retirada daqui. Só uma antecipação do meu conto "A Senhora da Floresta", que sairá na Excalibur.

domingo, 14 de outubro de 2012

Sino dos Ventos, Sino de Adeus


Quando ela saísse, os sinos tocariam pela última vez.

Thalia estava deitada sobre o colchão nu, vestindo as roupas que não chegara a tirar. Tinha passado a noite ali, sozinha, no quarto que Shanion desocupara havia apenas três dias – o quarto que ela visitara tantas vezes desde que o Mestre de Sagas viera para o Castelo. Tinham sido vários anos, ao longo dos quais ela se habituara a estar cercada por arcas elegantes e pela estudada desordem de livros e papéis. E, claro, também se habituara a Shanion: um amante pouco exigente, às vezes descuidado, mas sobretudo um amigo com quem ela podia conversar e falar com franqueza.

Foi numa dessas noites, naquele mesmo quarto, que ele lhe dissera que ia partir. E o dissera sem subterfúgios, como se fosse uma das coisas corriqueiras sobre as quais sempre falavam, aconchegados sob a manta de lã. Aquilo a atingira, embora ela soubesse que não havia razão. Como qualquer membro legítimo de uma Casa Nobre, Shanion devia agir de acordo com o que fosse melhor para a família e se casar com a pessoa escolhida por eles, como os irmãos de Thalia tinham feito tantos anos antes. Que ela própria houvesse rompido um compromisso para poder ascender aos últimos Círculos da Magia era apenas um detalhe, tão irônico quanto o fato da prometida de Shanion também ser uma maga. Casada, ela seria a senhora de um solar, mas nunca uma mestra da Escola de Riverast nem membro do Alto Conselho. Jamais lhe enviariam avisos através do fogo ou dos sonhos, nem as mensagens cifradas que, no Castelo das Águias, Thalia era a única a receber. Ela as partilhava com Camdell, porque entendia que ele também tinha esse direito, embora houvesse se afastado do Conselho na época da Cisão. Teria partilhado muito mais se ele quisesse. Mas até nisso, como em tantas outras coisas, Camdell era diferente de todos os seus amigos.

Um ruído seco, de madeira contra pedra, subiu até ela vindo do térreo. Rydel tinha acordado e aberto a janela. Sua voz límpida se fez ouvir em seguida, com a frase que ele repetia todas as manhãs. Eu te saúdo, lindo dia! Isso no sol ou na chuva, o que incomodava Shanion, para quem os seguidores de Odravas se mascaravam sob um estado de perpétua felicidade. Aquilo não era real, argumentava. Havia dias miseráveis, com chuva e vento; havia pensamentos mesquinhos e momentos de tristeza. Ele mesmo, quando lhe contou sobre a partida, não parecia feliz, já que preferiria ter escolhido ou ao menos sido consultado sobre a futura esposa. Por outro lado, reconhecia que precisava ir em frente, que não havia como progredir em sua posição na Escola de Artes Mágicas, onde tudo que se exigia de um Mestre de Sagas era que ensinasse os textos mais básicos a crianças desatentas.

Como se nada do que ficava para trás tivesse importância.

- É a coisa mais simples. Nem vou deixar instruções à minha sucessora – dissera ele, e olhara em torno, onde ainda estavam seus livros e outros objetos. – Aliás, não vou deixar nada, exceto os móveis que já estavam neste quarto. Ah, menos os sininhos de vento. Gosto tanto deles, e creio que não é exatamente um roubo. Ou eu deveria falar com o intendente? O que você acha?

- Acho que pode levar – disse Thalia, pouco à vontade. Por estranho que parecesse, naqueles anos que já durava sua amizade com Shanion ela também passara a gostar dos sinos, que ficavam pendurados diante da porta como um móbile. Tilintavam à menor brisa e soavam com uma bela melodia sempre que alguém entrava, o que a incomodara no início, pois fazia saber aos demais moradores da Ala Rosada que o Mestre de Sagas tinha companhia. Ele, porém, que geralmente era tão sério, só admitindo como arte o que estivesse dentro de seus elevadíssimos padrões – ele, Shanion de Ardost, se encantara por aqueles sininhos de louça colorida, delicada, porém barata, uma quinquilharia vendida por uma artesã humana no mercado de Vrindavahn.

E, por alguma razão que nem ela mesma saberia explicar, Thalia os escondera e os levara consigo na última noite que passara na Ala Rosada.

Os ruídos agora eram mais altos do lado de fora. A maga se levantou e foi até a janela, espiando por uma fresta o caminho de pedras que se via lá embaixo. Rydel estava saindo, com o cabelo faiscando ao sol e as orelhas aprumadas de quem jamais usara uma pedra de nobreza. Dois empregados passaram em seguida com um carrinho cheio de folhas secas, e fora de suas vistas aprendizes do Primeiro Círculo faziam a costumeira algazarra. Nada como aquela manhã, três dias atrás, quando as arcas e caixas de Shanion eram postas na carroça que o levaria embora para sempre. Naquele dia estava chovendo muito, e as despedidas tinham acontecido no refeitório, restando apenas o cocheiro contratado e seu ajudante para acompanhar a partida do Mestre de Sagas. Ela mesma lhe desejara boa sorte diante de todos os outros, depois de ter passado a noite em seus aposentos da Ala Amarela. Tudo para não estar com Shanion quando ele desse pela falta dos sinos.

E, tolo que ele era, não deduzira que aquilo fora obra de Thalia. Pouco mais tarde, após ele ter ido embora, ela soube que ele andara procurando pelos sininhos, que perguntara ao intendente e aos empregados se os tinham tirado do quarto e acusara os aprendizes de lhe pregarem uma peça. Para cúmulo de tudo, chegara a pedir ajuda aos magos do Castelo, mas todos eles tinham dado de ombros. Por fim, partiu, e Thalia ficou longe de seu quarto por duas noites, até voltar pé-ante-pé com os sinos embrulhados em um pano.

E agora eles estavam ali, tilintando à brisa da manhã, e soaram com mais força quando ela acabou de abrir a janela. Tinha fechado os olhos e tentava ignorar os outros sons, os risos e as vozes das crianças, o ranger das rodas do carrinho e o canto dos pássaros. Em sua mente só devia haver os sinos, um som que guardaria para sempre a memória de suas noites com Shanion. Fora um período bom, mas tinha acabado. Essa era a coisa certa em que acreditar.

Thalia exalou longamente o ar em seus pulmões e abriu os olhos. O quarto não era o mesmo, sem as arcas e os tapetes trazidos do solar da Casa Esmeralda e com as estantes nuas. Em uma ou duas luas elas seriam preenchidas com os livros da nova Mestra de Sagas, cuja chegada não apenas Camdell mas também Lara, Rydel e – por razões que só ele sabia – Kieran de Scyllix aguardavam com prazer e ansiedade. Que ela fosse feliz ali, pensou Thalia, desejando poder ser mais sincera. Que todos fossem felizes, principalmente Shanion em sua nova vida. Ela também voltaria a sê-lo tão logo deixasse aquele quarto.

Os sinos ainda soavam quando ela saiu sem olhar para trás.

...

Este conto se passa pouco antes da chegada de Anna de Bryke ao Castelo das Águias, para substituir Shanion como Mestra de Sagas. Ela ocupou o antigo quarto dele e herdou os sinos de vento. Mas não por muito tempo. :)

Se vocês não conhecem a Thalia, cliquem aqui para saber mais e apreciar uma ilustra exclusiva deste blog!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Thalia de Erchedel


Séria, reservada e - ao menos à primeira vista - muito arrogante, o que possivelmente se deve ao fato de descender de uma das Casas Nobres dos Elfos Brilhantes. Essa é Thalia de Erchedel, que ensina os princípios da Magia aos jovens recém-chegados à Escola de Artes Mágicas.

Não se sabe muito sobre a vida pregressa de Thalia. Juntamente com Finn e Sophia ela foi uma das mestras que participaram da fundação da Escola dirigida por Camdell e Theoddor, tendo sempre permanecido ligada ao Primeiro Círculo. Entre os aprendizes, Thalia tem a reputação de ser uma mestra exigente, que os faz decorar listas e listas de correspondência entre os elementos, as plantas, os astros, e periodicamente revisa seus grimórios para prevenir alguma anotação desastrada. Também usa a visão e a audição privilegiadas de sua raça para manter a atenção e a disciplina. Essas características lhe valeram o apelido de "Coruja" e a fama de rigorosa, embora, como ela mesma diz, seus métodos sejam até suaves em comparação aos do Carrasco que os aguarda no próximo Círculo.

No início do livro, a narradora Anna de Bryke percebe que há uma rixa entre Kieran e Thalia, que vem desde o tempo em que ele era o Mestre das Águias de Scyllix. Além disso, Thalia não demonstra grande receptividade em relação a Anna, o que levará a um conflito entre as duas. Ainda assim, a elfa brilhante não hesitará em se alinhar aos outros mestres do Castelo quando surge uma ameaça, usando seu poder em defesa das águias e de uma amiga em perigo.

Os familiares de Thalia serão apresentados aos leitores no segundo livro da série , mas há muitas histórias por trás da personagem. Vocês podem ler uma delas aqui

Até lá!

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Esta ilustração foi feita pela artista Angela Takagui especialmente para o blog do Castelo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Top 5 e Entrevista no Pop Division



Pessoas Queridas,

O conteúdo deste post já foi bastante divulgado nas redes sociais, e além disso o coloquei na Estante Mágica, mas este blog não pode deixar de registrar duas entrevistas que saíram no final de setembro.

A primeira obedeceu ao formato que já se tornou tradicional no blog da Editora Draco: o Top 5, em que os autores da casa falam das influências que nortearam seu trabalho. As minhas diferem um pouco da maioria, então quem ainda não viu e tem curiosidade de saber de onde saiu tanta "hipponguice" é só correr lá.

A segunda entrevista foi concedida ao meu colega de editora, Jim Anotsu, autor de Annabel e Sarah e do recentemente lançado A Morte é Legal. Aqui falo também de influências, mas vêm à baila assuntos como a minha formação teórica e posição em relação à literatura (e aos leitores) contemporâneos. Quem tiver curiosidade ou quiser manter um diálogo a respeito, clique então no blog do Jim, o Pop Division.

E como uma homenagem a esse autor que não se deixa fotografar sem (no mínimo) um saco de papel pardo na cabeça, este post é ilustrado com o avatar do Andy, seu personagem do novo livro. ;)

No mais... Bom início de outubro, com muitas novidades e surpresas. As minhas já estou preparando aqui... :)

Abraços a todos!