quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Horizonte : conto de Júlio Soares (parte 3)


Naquela noite Vergena sonhou com águias guerreiras, belas e altivas. Elas voavam em sua volta, amigas. Em meio ao breu, a elfa notou, estranhamente, uma coruja a observando. O animal era diferente dos demais, e tinha uma carga sinistra.
Acordou assustada, suando. Esfregou os olhos e olhou em volta, foi quando teve um susto. Havia a sua frente três enormes lobos, brancos e assustadores, incomuns. Eles estavam quietos, com a boca aberta e os olhos frios feito a morte. Vergena buscou lentamente o seu bastão, que mantinha sempre do seu lado.
Doron! – sussurrou, mas o homenzarrão dormia sob uma árvore próxima. Famintos, os lobos começaram a andar em direção à elfa.
– Doron, acorde! Estamos sendo atacados! – Dessa vez ela falou alto, correndo para a direita, dando um chute na coxa do grande homem. Este gritou, mas, ao mesmo tempo, pegou uma espada curva, se ajoelhando em seguida. Os três lobos seguiram a elfa, dando de cara com o guerreiro.
– Mas o que é isso? – Doron gritou, apavorado. Um dos animais avançou em direção a ele, mas foi atingido no momento em que pulou por um corte rápido. Estranhamente o lobo não caiu, mas virou uma espécie de névoa. Vergena compreendeu que era um espírito. Havia algum mago por perto.
– Mantenha a atenção! – Ela subiu em uma árvore, com o bastão lançou uma carga energética no outro lobo, que ganiu alto antes de se dissolver em energia. Não teve tempo de atacar o último, sentindo garrafas afiadas tomarem conta de seu ombro direito. Olho para o lado e viu uma águia da mesma aparência que a atacava. Tentou se movimentar, deixando o bastão cair.
– O exercício da nuvem, Vergena! – Doron gritou de baixo, desviando do ataque de mais outros dois lobos que surgiam. Ele agora utilizava duas espadas. Vergena tentou se concentrar, mas a dor era forte demais.
Isso não vai terminar assim! Ela imaginou o galho em que se encontrava sumindo. Após alguns segundos, sentiu-se cair, e a águia levantou voo, piando.
Pegou o bastão e disparou jorros de energia mágica em direção ao céu, porém não acertou a águia. Olhou para Doron, que agora estava completamente cercado. Dois lobos tinham as espadas dele presas em suas bocas, e não soltavam de jeito nenhum. O guerreiro puxava os braços, tentando fazer algum movimento – mas os espíritos eram fortes. Vergena correu em direção a ele e estacou a ponta do bastão no terceiro lobo, que imediatamente sumiu. Ela se ajoelhou e falou algumas palavras mágicas, fazendo uma bola de chamas voar em direção a um dos lobos.
Doron se aproveitou da situação e girou o corpo com toda a força, fazendo o animal soltar sua espada e deixar o seu braço direito livre. Utilizou o movimento e levou a lâmina até o pescoço do outro animal.
– Tem algum mago por aqui, Vergena! Temos que encontrá-lo ou não vamos parar de ser atacados! Eu cuido dos animais, você procura por ele!
Ela assentiu com a cabeça e saiu correndo, concentrando toda a sua energia em sua memória, recitando um feitiço de busca. Ela parou abruptamente, fazendo um pequeno círculo em sua volta e erguendo os braços. Aquele era um ritual simples, mas ela tinha que manter a concentração e, ao mesmo tempo, prestar atenção a sua volta para possíveis ataques. Quando começou a recitar as palavras, um barulho a interrompeu:
– Nair, é você? – disse um velho, saindo das árvores. Ele vestia trapos e não usava sapatos, havia um galho em sua mão esquerda, e várias pulseiras e colares o enfeitavam. Era uma espécie de xamã, pelo que ela percebeu. Mas aquele tipo de magia só podia ser feita por magos treinados e sábios. Aquilo era impossível. Vergena fez uma posição de defesa com o bastão em mãos.
– Nair, você deveria estar na Floresta do Sol, eu te pedi para ficar lá.
– Não sou nenhuma Nair, me chamo Vergena de Thaelke, velho. Quem é você?
Ele ficou em silêncio por um momento, alisando o galho de olhos fechados.
 – Nair... não. Não é Nair... Urin, eu. Minha. Minha... – Suas palavras não faziam sentido para a elfa. – Minha floresta!
Com um movimento rápido, gritou e apontou o galho para Vergena, que instintivamente desviou do feixe energético que se seguiu. Então, fez um movimento com o braço e disparou duas descargas de energia em direção ao velho, que se defendeu com facilidade.
– Você disse que eu não podia aprender, Nair! – exclamou. - Você disse! Mas eu aprendi! Toda a Floresta do Sol me ensinou, menos você! Fiquei amigo dos elfos, mas você dizia que alguém como eu jamais iria ser um mago! Olhe para mim, Nair! Olhe! Eu sou um mago e tenho uma floresta, Nair! Agora você gosta de mim?! – Ele atacava rápido e Vergena mal tinha tempo de se defender. Estava recuando demais, e chegou a cruzar os limites do círculo que havia feito.
Forçou o pensamento para focar a energia na mão esquerda, que estava livre. Quando sentiu esta se esquentar o suficiente, lançou mais três rajadas energéticas no velho, que, pego de surpresa, se atirou no chão.
 Vergena aproveitou para se esconder atrás de uma árvore. Tentava pôr os pensamentos em ordem. Chegou à conclusão de que aquele homem provinha do sul, e, com os elfos da Floresta do Sol, aprendera a arte da Magia. Mas possivelmente não foi disciplinado o suficiente e acabou louco.
Ela olhou para cima, e viu uma águia. Não era uma águia-fantasma, como ela notou de cara. O animal a olhou de cima, e ela fitou seus olhos negros. Lembrou-se do dia que o mestre Kieran passara para ela o poder sobre as águias, e da conexão que ela sentia com tal animal.
Me ajude – sussurrou, não tendo certeza de que a águia a entendera. O animal a observou um pouco e seguiu voo. 

....

A seguir: a conclusão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário